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São Paulo UNICAMP 2013.2 Questão: 10 Literatura Teoria Literária Geral 

(...) Quando o Bugre sai da furna, é mau sinal: vem ao faro do sangue como a onça. Não foi debalde que lhe deram o nome que tem. E faz garbo disso!

– Então você cuida que ele anda atrás de alguém?
– Sou capaz de apostar. É uma coisa que toda a gente sabe. Onde se encontra Jão Fera, ou houve morte ou não tarda.
Estremeceu Inhá com um ligeiro arrepio, e volvendo em torno a vista inquieta, aproximou-se do companheiro para falar-lhe em voz submissa:
– Mas eu tenho-o encontrado tantas vezes, aqui perto, quando vou à casa de Zana, e não apareceu nenhuma desgraça.
– É que anda farejando, ou senão deram-lhe no rasto e estão-lhe na cola.
– Coitado! Se o prendem!
– Ora qual. Dançará um bocadinho na corda!
– Você não tem pena?
– De um malvado, Inhá!
– Pois eu tenho!

(José de Alencar, Til, em Obra completa, vol. III. Rio de Janeiro: Aguilar, 1958, p. 825.)


O trecho do romance Til transcrito acima evidencia a ambivalência que caracteriza a personagem Jão Fera ao longo de toda a narrativa.

a) Explicite quais são as duas faces dessa ambivalência.

b) Exemplifique cada face dessa ambivalência com um episódio do romance.

Espera-se que o candidato identifique em Jão Fera uma personagem ambivalente, que não pode ser classificada puramente como vilão ou herói. Jão Fera tornou-se um assassino cruel por conta das vicissitudes que lhe marcaram a vida. Em sua juventude Jão Fera viu Besita, a moça por quem estava apaixonado, e a cujo amor renunciara por não se julgar digno dela, ser violada por Luís Galvão, seu melhor amigo, e, posteriormente, ser assassinada pelo marido. Esses fatos o levaram a trilhar o caminho do crime. Mas a lembrança de seu amor por Besita persiste em sua adoração pela filha dela, Berta, a quem se mantém fiel e a quem protege de todos os perigos ao longo de todo o romance.

Essa ambivalência da personagem pode ser exemplificada de várias maneiras. Jão Fera é matador profissional. Se em uma passagem do romance chega a despedaçar um inimigo com as próprias mãos, em outra salva Berta do ataque de um bando de queixadas. Mas talvez a melhor caracterização dessa ambivalência se encontre naquelas passagens do romance em que as duas faces de Jão Fera se manifestam ao mesmo tempo, evidenciando o profundo sofrimento da personagem com seu destino: tendo aceitado pagamento para matar um homem, descobre que se tratava de Luís Galvão, seu amigo de infância, o violador de Besita, a cuja família, no entanto, se sente ligado por deveres de gratidão, e procura de todas as maneiras restituir o dinheiro recebido para se desobrigar do crime. Também em seu estranho conceito de honra: mesmo sendo matador profissional, nunca ataca sua vítima à traição, pelas costas, sempre de frente, para que ela tenha a possibilidade de se defender.

Essa atitude, por outro lado, revela a secreta esperança de ser morto e pôr um fim a sua vida infeliz. Talvez o clímax de sua cisão íntima esteja no capítulo em que, protegendo Berta de seus inimigos, sente ao mesmo tempo despertar em si um violento desejo sexual pela moça, quase chegando a tomá-la à força, mas se contendo a tempo.



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