Leia o poema de Carlos Drummond de Andrade para responder às questões de números 01 a 04.
Nascer de novo
Nascer: findou o sono das entranhas.
Surge o concreto,
a dor de formas repartidas.
Tão doce era viver
sem alma, no regaço
do cofre maternal, sombrio e cálido1.
Agora,
na revelação frontal do dia,
a consciência do limite,
o nervo exposto dos problemas.
Sondamos, inquirimos
sem resposta:
Nada se ajusta, deste lado,
à placidez2 do outro?
É tudo guerra, dúvida
no exílio?
O incerto e suas lajes
criptográficas?
Viver é torturar-se, consumir-se
à mingua de qualquer razão de vida?
Eis que um segundo nascimento,
não adivinhado, sem anúncio,
resgata o sofrimento do primeiro,
e o tempo se redoura.
Amor, este o seu nome.
Amor, a descoberta
de sentido no absurdo de existir.
O real veste nova realidade,
a linguagem encontra seu motivo
até mesmo nos lances de silêncio.
A explicação rompe das nuvens,
das águas, das mais vagas circunstâncias:
Não sou eu, sou o Outro
que em mim procurava seu destino.
Em outro alguém estou nascendo.
A minha festa,
o meu nascer poreja3 a cada instante
em cada gesto meu que se reduz
a ser retrato,
espelho,
semelhança
de gesto alheio aberto em rosa.
1 cálido: quente.
2 placidez: tranquilidade; serenidade.
3 porejar: fazer sair ou sair pelos poros; suar, transpirar.
(Poesia, 2002.)
Reescreva os versos, substituindo as expressões em destaque por outras de sentido equivalente.
a) Nascer: findou o sono das entranhas. / Surge o concreto, / a dor de formas repartidas. / Tão doce era viver / sem alma, no regaço /do cofre maternal, sombrio e cálido.
b) Amor, a descoberta / de sentido no absurdo de existir. / O real veste nova realidade, / a linguagem encontra seu motivo / até mesmo nos lances de silêncio.
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