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Goiás UFG 2014.1 Questão: 49 História Geral 

Leia os textos a seguir.

Texto 1

Foi a própria sociedade brasileira, por meio de suas instituições ou com o apoio delas, que sequestrou meus ancestrais da África e os transformou em um insumo barato. Assim como foram as políticas estatais que, após a abolição, inviabilizaram toda forma de reparação oficial pelos quase 400 anos de escravidão, jogando milhões de pessoas das senzalas para as ruas, da escravidão para o desemprego ou para as garras de patrões que nunca deixaram de tratálas como seus “negrinhos” e suas “negrinhas”.

SILVA, Wilson da. Superinteressante, São Paulo, jun. 2001. Disponível em: <http://super.abril.com.br/cotidiano/defesa-cotas-442274.shtml>. Acesso em: 16 out. 2013. (Adaptado).

Texto 2

Todos nós sabemos que a África subsaariana forneceu escravos para o mundo antigo, para o mundo islâmico, para a Europa e para a América. Até o princípio do século 20, o escravo era o principal item de exportação da pauta econômica africana. Sobre a miscigenação no Brasil, nós temos uma história tão bonita. Fala-se que as negras foram estupradas. Fala-se que a miscigenação deu-se pelo estupro. Fala-se que foi algo forçado. Mas, Gilberto Freyre mostra que isso se deu de forma muito mais consensual.

TORRES, Demóstenes, apud. FERRAZ, Luca; CAPRIGLIONE, Laura. Jornal Folha de S. Paulo, 4 mar. 2010. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u702198.shtml>. Acesso em: 16 out. 2013. (Adaptado).

 

As reflexões sobre as políticas afirmativas têm gerado o uso de diferentes interpretações sobre o passado brasileiro. Publicados na mídia impressa e digital, os textos apresentados exemplificam dois discursos sobre a história da escravidão no Brasil, representativos do debate sobre a implementação das cotas raciais. Diante do exposto e considerando a diferença entre os textos, explique a

a) característica que fundamenta a interpretação sobre a escravidão, em cada um deles;

b) a relação entre a interpretação e a posição política sobre as cotas raciais, em cada um deles.

a) Ao considerar as interpretações (que além de diferentes, são excludentes), conclui-se que a característica que as fundamenta é:

• no primeiro texto, a violência: elabora-se uma interpretação da escravidão como um processo violento, impulsionado pelas instituições da sociedade brasileira contra os africanos. Este processo violento continuou a ser exercido contra os ex-escravos no período da abolição e deixa marcas na sociedade brasileira, podendo ser verificado na permanência do preconceito racial na sociedade atual.

• no segundo texto, a harmonia e/ou o consenso: elabora-se uma interpretação da escravidão em que se assume um caráter harmonioso, expresso pela noção de uma miscigenação ocorrida consensualmente. Nesse sentido, a África se torna responsável pela escravidão e dela partilha, uma vez que também “forneceu escravos para o mundo antigo”. Desse modo, a escravidão perde o seu caráter violento e impositivo contra os africanos e afro-brasileiros.

b) O passado é constantemente reinterpretado de modo a legitimar ou deslegitimar determinadas posições políticas existentes no presente. A questão apresenta duas interpretações que se relacionam, cada qual, a duas posições políticas distintas, elaboradas e assumidas no contexto do debate sobre as cotas raciais. Assim:

• no primeiro texto, a interpretação do passado relaciona-se a uma posição política que objetiva justificar e defender a existência das cotas raciais. Ao formular a existência de uma dívida da sociedade brasileira com a população afrodescendente, apresenta a necessidade da criação de políticas públicas de reparação.

• no segundo texto, a interpretação do passado relaciona-se a uma posição política que pretende deslegitimar e combater as cotas raciais. Ao tornar a África e os afrodescendentes copartícipes da escravidão e estabelecer a ideia de harmonia e consenso, retira-se da sociedade e do Estado brasileiro responsabilidade com a situação das populações afrodescendentes no presente.



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