Leia os trechos a seguir.
É ELA! É ELA! É ELA! É ELA!
É ela! é ela — murmurei tremendo,
E o eco ao longe murmurou — é ela!
Eu a vi minha fada aérea e pura —
A minha lavadeira na janela!
Dessas águas furtadas onde eu moro
Eu a vejo estendendo no telhado
Os vestidos de chita, as saias brancas;
Eu a vejo e suspiro enamorado!
[…]
Mas se Werther morreu por ver Carlota
Dando pão com manteiga às criancinhas,
Se achou-a assim mais bela, — eu mais te adoro
Sonhando-te a lavar as camisinhas!
É ela! é ela! meu amor, minh'alma,
A Laura, a Beatriz que o céu revela...
É ela! é ela! — murmurei tremendo,
E o eco ao longe suspirou — é ela!
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Obra completa. Org. Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. p. 237-238.
[…] Agora, no lugar das bicas apinhavam-se latas de todos
os feitios, sobressaindo as de querosene com um braço de madeira
em cima; sentia-se o trapejar da água caindo na folha. Algumas
lavadeiras enchiam já as suas tinas; outras estendiam nos coradouros
a roupa que ficara de molho. Principiava o trabalho. [...]
A primeira que se pôs a lavar foi a Leandra, por alcunha a
“Machona”, portuguesa feroz, berradora, pulsos cabeludos e
grossos, anca de animal do campo […]
Ao lado da Leandra foi colocar-se à sua tina a Augusta
Carne-Mole, brasileira, branca, mulher de Alexandre [...]
Junto dela pôs-se a trabalhar a Leocádia, mulher de um ferreiro
chamado Bruno, portuguesa pequena e socada, de carnes
duras, com uma fama terrível de leviana entre as suas vizinhas.
Seguia-se a Paula, uma cabocla velha, meio idiota, a
quem respeitavam todos pelas virtudes de que só ela dispunha
para benzer erisipelas e cortar febres por meio de rezas e feitiçarias.
Era extremamente feia, grossa, triste, com olhos desvairados,
dentes cortados à navalha, formando ponta, como dentes
de cão, cabelos lisos, escorridos e ainda retintos apesar da idade.
Chamavam-lhe “Bruxa”.
[...]
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Ática, 1995. p. 36-38.
Inseridos na estética romântica e naturalista, os trechos transcritos se aproximam pelas imagens femininas neles representadas e se afastam pela escolha dos traços descritivos que as compõem. Com base no exposto,
a) explicite o que aproxima as imagens das lavadeiras recriadas no poema de Álvares Azevedo e no romance O cortiço;
b) justifique por que a escolha dos traços descritivos diferencia as imagens femininas recriadas no poema romântico de Álvares de Azevedo e no romance naturalista O cortiço.
a) O que as aproxima é o fato de elas serem mulheres do povo/pessoas comuns/trabalhadoras braçais. OU O que as aproxima é a sua origem pobre/classe social menos favorecida. b) A escolha dos traços descritivos diferencia as imagens femininas porque, no poema, é positiva/enaltecedora/idealizante; no romance, ela é negativa/depreciativa/animalizadora.
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