Leia a letra da canção e o documento que seguem.
Fruta estranha
Árvores do sul produzem uma fruta estranha, sangue nas folhas e nas raízes, corpos negros balançando na brisa do sul, frutas estranhas penduradas nos álamos. Cena pastoril do valente sul, os olhos inchados e a boca torcida, perfume de magnólias, doce e fresco, então, o repentino cheiro de carne queimando. Aqui está a fruta para os corvos arrancarem, para a chuva recolher, para o vento sugar, para o sol apodrecer, para as árvores derrubarem, aqui está a estranha e amarga colheita.
MEEROPOL , Abel. Strange Fruit. In: MARGOLICK, David. Strange Fruit: Billie
Holiday e a biografia de uma canção. São Paulo: Cosac Naify, 2012. (Adaptado).
Todas as pessoas nascidas e naturalizadas nos Estados Unidos, e sujeitas à sua jurisdição, são cidadãos dos Estados Unidos e dos estados em que residem. Nenhum Estado poderá fazer ou criar qualquer lei que crie privilégios e imunidades para cidadãos dos Estados Unidos; nenhum Estado poderá privar qualquer pessoa da vida, liberdade e propriedade, nem negar para qualquer pessoa a igual proteção das leis.
XIV EMENDA À CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 1868. Disponível em:
<direitosfundamentais.net/2008/10/23>. Acesso em: 15 abr. 2013. (Adaptado).
A composição “Fruta estranha” ficou conhecida, nos Estados Unidos, pela interpretação de Billie Holiday, que a cantou, pela primeira vez, em 1939. Desde então, essa composição tornou-se símbolo de protesto, aludindo a uma prática cotidiana contrária à emenda constitucional, datada de 1868. Considerando-se o exposto, explique
a) a relação entre a composição e a questão racial, com base no contexto da Guerra Civil norte-americana (1860-1865);
b) como a metáfora “fruta estranha” refere-se à contradição entre as leis e as práticas político-sociais do sul dos Estados Unidos.
a) A relação entre a composição e a questão racial, considerando-se o contexto da Guerra Civil, en- contra-se na permanência da segregação, abordada na música. A Guerra Civil norte-americana, declarada antes mesmo da posse de Abraham Lincoln, em 1860, opôs os estados do Sul (que ti nham a economia marcada pela agricultura voltada à exportação, pela produção algodoeira, pelo livre-cambismo) e do Norte (onde, por sua vez, predominava o trabalho assalariado, a industriali- zação e o protecionismo). A discussão em torno da abolição da escravatura era fundamental no contexto da Guerra Civil. Ainda durante os conflitos, o governo Lincoln decretou a abolição nos estados rebeldes em 1862, tendo a abolição efetiva sido declarada em 1865, sem plano algum para a integração dos ex-escravos à sociedade norte-americana. Entre 1865 e 1868, apesar da aprovação das XIII e XIV emendas à Constituição (que decretavam o fim da escravidão e a extensão dos direitos civis a todos os norte-americanos, incluindo os afro-descendentes), manteve- se, nos estados do Sul da federação, a segregação racial. Como exemplos dessa permanência pode-se citar: 1) a ação da Suprema Corte dos Estados Unidos, que, em diversas ocasiões, deliberou legítima a separação entre negros e brancos, em espaços públicos; 2) a ação da Ku Klux Klan, fundada em 1867 por conservadores sulistas. b) A metáfora expressava a contradição entre as leis e as práticas políticas no Sul dos Estados Unidos. Desde 1868, a lei federal estabelece cidadania norte-americana aos afro-descendentes, o que determina tratamento igualitário, com garantias constitucionais (“Todas as pessoas nascidas e naturalizadas nos Estados Unidos, e sujeitas à sua jurisdição, são cidadãos dos Estados Unidos e dos estados em que residem”). Então, observa-se uma contradição entre a lei e a prática política no Sul dos Estados Unidos, decorrente dos linchamentos (e outras práticas), muito co- muns nessa parte da Federação, à época da produção da composição. A metáfora “fruta estranha” remete àquele que não é um igual, não está incorporado, é estranho – referência explícita à segregação racial, que tornou a composição um marco de protesto em relação à ausência de direitos civis.“Fruta estranha” é o negro que, depois de linchado, por acusações que independiam de provas (não havia processo jurídico que garantisse a proteção das leis aos negros) era pendurado em árvores. Seu corpo, propositadamente deixado à exposição pública, ficava à mercê do Sol (cheiro de carne queimando/para o sol apodrecer), do vento (para ser sugado), da chuva (que limpava o “sangue nas folhas e raízes”).
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