Leia os fragmentos.
EDUARDO – [...] Estou convencido que há um grande erro na maneira de viver atualmente. A sociedade, isto é, a vida exterior, tem-se desenvolvido tanto que ameaça destruir a família, isto é, a vida íntima. A mulher, o marido, os filhos, os irmãos, atiram-se nesse turbilhão dos prazeres, passam dos bailes aos teatros, dos jantares às partidas; e quando, nas horas de repouso, se reúnem no interior de suas casas, são como estrangeiros que se encontram um momento sob a tolda do mesmo navio para se separarem logo. Não há ali a doce efusão dos sentimentos, nem o bem-estar do homem que respira numa atmosfera pura e suave. O serão da família desapareceu; são apenas alguns parentes que se juntam por hábito, e que trazem para a vida doméstica, um, o tédio dos prazeres, o outro, as recordações da noite antecedente, o outro, o aborrecimento das vigílias!
AZEVEDO – E que concluis desta tirada filosófico-sentimental?
EDUARDO – Concluo que é por isso que se encontram hoje tantos moços gastos como tu; tantas moças para quem a felicidade consiste em uma quadrilha; tantos maridos que correm atrás de uma sombra chamada consideração; e tantos pais iludidos que se arruinam para satisfazer o capricho de suas filhas julgando que é esse o meio de dar-lhes a ventura!
ALENCAR, José de. O demônio familiar. São Paulo: Pontes, 2003. p. 24-25.
A propósito, desculpe a indiscrição, mas há quanto tempo a senhora não vê sua filha? Há quanto tempo não lhe faz uma visita ou não telefona para saber como ela está? Quando a senhora e seu marido compraram para ela o apartamento do Leblon, achavam que estavam fazendo a coisa certa, a menina queria morar sozinha, tudo bem, que fosse, vocês se sentiram bons pais, compreensivos, modernos, não foi assim? Mas desde então a senhora tem visto muito pouco a sua filha, não é?, e isso não é bom, não é nada bom, a cidade é perigosa, nós sabemos, há um perigo em cada esquina, de onde menos se espera pode vir o pior, a morte mesmo, então é bom cuidar dos filhos, não deixálos à mercê da sorte, pode não parecer mas os jovens são frágeis, indefesos, sabia?
CARNEIRO, Flávio. A confissão. Rio de Janeiro: Rocco, 2006. p. 201.
A literatura tem tematizado as grandes transformações sociais, como indicam os excertos acima, que abordam situações relativas à família, primeiro espaço de socialização do ser humano. De acordo com o teor dos discursos dos protagonistas nos excertos, explicite:
a) a opinião de Eduardo sobre o modo de agir dos pais da sociedade de seu tempo e o motivo pelo qual se estabelece um diálogo entre essa opinião e a do narrador de A confissão; (2,0 pontos)
b) o ideal de família presente em cada texto transcrito e a consequência do afastamento desse ideal para os sujeitos e para a sociedade na qual se inserem. (3,0 pontos)
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