Leia os fragmentos do poema “Segredos”, de Casimiro de Abreu, e do romance Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida.
Segredos
Eu tenho uns amores ― quem é que os não tinha
Nos tempos antigos? ― Amar não faz mal;
As almas que sentem paixão como a minha
Que digam, que falem em regra geral.
― A flor dos meu sonhos é moça e bonita
Qual flor entreaberta do dia ao raiar,
Mas onde ela mora, que casa ela habita,
Não quero, não posso, não devo contar!
[...]
Oh! ontem no baile com ela valsando
Senti as delícias dos anjos do céu!
Na dança ligeira qual silfo voando
Caiu-lhe do rosto seu cândido véu!
― Que noite e que baile!― Seu hálito virgem
Queimava-me as faces no louco valsar,
As falas sentidas que os olhos falavam
Não posso, não quero, não devo contar!
[…]
Trememos de medo... a boca emudece
Mas sentem-se os pulos do meu coração!
Seu seio nevado de amor se intumesce...
E os lábios se tocam no ardor da paixão!
― Depois... mas já vejo que vós, meus senhores,
Com fina malícia quereis me enganar.
Aqui faço ponto; ― segredos de amores
Não quero, não posso, não devo contar!
ABREU, Casimiro de. As primaveras. São Paulo: Martin Claret, 2008. p.78-80.
[…] Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o que, uma certa Maria da Hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia rechonchuda e bonitona […]. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isso uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares que pareciam sê-lo de muitos anos [...].
ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias. São Paulo: Martin Claret, 2009. p.15.
Os fragmentos transcritos representam uma situação recorrente no Romantismo – a corte amorosa. Considerando esses fragmentos e o contexto das obras em que se inserem,
a) transcreva o verso que enfatiza o modo discreto do eu lírico tratar de detalhes de sua conquista amorosa; (1,0 ponto)
b) explique por que a representação da mulher e do amor, no fragmento do romance, afasta-se do Romantismo; (2,0 pontos)
c) estabeleça a diferença entre as formas como o eu lírico e o narrador expressam as consequências da corte amorosa. (2,0 pontos)
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