Leia os trechos do poema “Relógio da família”, de Afonso Felix de Sousa.
Ê-vem como quem diz – E agora? E agora? –
desde as brumas do século passado
até este momento – agora, agora.
E ele enche o espaço, e a casa e os seus espaços
com secos tiquetaques e indiscretas
batidas, que vai dando e repetindo
– E agora? Agora. E agora? – Agoroutrora
ê-vem meu bisavô, ele ê-vem vindo
de entre a poeira erguida de uma tropa
no sertão de Goiás, e ele é quem manda
que desçam três caixotes: num o pêndulo,
noutro os dois pesos, noutro o maquinismo
[...]
E ê-vem testemunhando nascimentos,
mortes, conversas, choradeiras, risos,
passos que foram e depois voltaram,
passos que foram e não mais voltaram.
[...]
lá vai meu bisavô, vai para sempre...
e meu avô ê-vem, ele olha as horas,
toma café, acende um pito, e em antes
de ir cuidar dos negócios, ele sobe
num tamborete e cuida do relógio
como a cuidar de um filho, e lhe dá corda
a fim de que não pare. E um dia pára
o coração de meu avô – E agora?
Pois lá vai meu avô, vai para sempre...
e ê-vem meu pai, e à sombra do relógio
ele me explica tudo: esse mistério
de algarismos romanos, e o do tempo
que vai passando enquanto, enquanto – E agora?
Lá vai meu pai, vai para sempre... E agora
olho o relógio, e ele me vê do alto
da parede da sala onde estou sendo
– E agora?...
SOUSA, Afonso Felix de. Nova antologia poética. Goiânia: Cegraf/UFG, 1991. p. 158-159.
Nesse texto, a palavra “relógio” e a expressão “E agora?” são representações de temas frequentes na antologia de Afonso Felix. Com base no poema, responda:
a) Como o eu lírico interpreta a passagem temporal, simbolizada pelo relógio, e a quem essa passagem atinge? (3,0 pontos)
b) A recorrência da expressão “E agora?” sugere, no nível sonoro, a batida do relógio, e sintetiza, no nível do sentido, uma indagação do eu lírico. A que se refere essa indagação? (2,0 pontos)
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