Texto I
CARNAVAL CARIOCA
(...)
Eu mesmo... Eu mesmo, Carnaval...
Eu te levava uns olhos novos
Pra serem lapidados em mil sensações bonitas,
Meus lábios murmurejando de comoção assustada
5 Haviam de ter puríssimo destino...
É que sou poeta
E na banalidade larga dos meus cantos
Fundir-se-ão de mãos dadas alegrias e tristuras, bens e males,
Todas as coisas finitas 10 Em rondas aladas sobrenaturais.
Ânsia heróica dos meus sentidos
Pra acordar o segredo de seres e coisas.
Eu colho nos dedos as rédeas que param o infrene das vidas,
Sou o compasso que une todos os compassos,
15 E com a magia dos meus versos
Criando ambientes longínquos e piedosos
Transporto em realidades superiores
A mesquinhez da realidade.
Eu bailo em poemas, multicolorido!
20 Palhaço! Mago! Louco! Juiz! Criancinha!
Sou dançarino brasileiro!
Sou dançarino e danço!
E nos meus passos conscientes
Glorifico a verdade das coisas existentes
Fixando os ecos e as miragens.
25 Sou um tupi tangendo um alaúde
E a trágica mixórdia dos fenômenos terrestres
Eu celestizo em eurritmias soberanas,
Ôh encantamento da Poesia imortal!...
Onde que andou minha missão de poeta, Carnaval?
30 Puxou-me a ventania, Segundo círculo do Inferno,
Rajadas de confetes
Hálitos diabólicos perfumes
Fazendo relar pelo corpo da gente
35 Semiramis Marília Helena Cleópatra e Francesca.
Milhares de Julietas!
Domitilas fantasiadas de cow-girls,
Isoldas de pijama bem francesas,
Alzacianas portuguesas holandesas...
Geografia
40 Êh liberdade! Pagodeira grossa! É bom gozar!
Levou a breca o destino do poeta,
Barreei meus lábios com o carmim doce dos dela...
(...)
Carnaval ...
45 Porém nunca tive intenção de escrever sobre ti...
Morreu o poeta e um gramofone escravo
Arranhou discos de sensações...
(ANDRADE, Mario de. Poesias completas. São Paulo & Belo Horizonte: Martins & Itatiaia, 1980.)
"É que sou poeta
E na banalidade larga dos meus cantos
Fundir-se-ão de mãos dadas alegrias e tristuras, bens e males,
Todas as coisas finitas
Em rondas aladas sobrenaturais."
(texto I - versos 6 a 10)
O fragmento do poema de Mário de Andrade expressa um tipo de proposta que difere do projeto parnasiano de trabalhar com temas sérios, clássicos ou grandiosos.
A. Redigindo sua resposta em, no máximo, duas frases completas, aponte a diferença entre o projeto parnasiano e o que está expresso no fragmento acima.
B. Explique, em uma frase completa, a atitude do autor do texto I quanto à metrificação e relacione-a ao estilo de época a que pertence este texto.
A) Enquanto o projeto parnasiano se propunha como algo muito preocupado com os “grandes temas”, o fragmento acima expressa a possibilidade modernista de tematizar a “banalidade”. B) O autor do texto não demonstra preocupação com a métrica, o que está de acordo com a liberdade formal proposta pelo Modernismo.
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