A MOÇA DE GOIATUBA

1 Mal rompeu o dia – a moça
2 foi levar café com leite
3 para o filho do patrão.
4 Sentada à beira da cama,
5 como fez sempre, esperava,
6 como fez sempre, que o moço
7 lhe reclamasse mais pão.
8 Mas o moço não queria
9 nem pão nem café com leite.
10 Queria – e com que paixão
11 dentro dos olhos! – queria-lhe
12 os peitinhos em botão.
13 Daí o moço pediu-lhe
14 que se deitasse com ele
15 um pouco... que assim veria
16 como era bom o colchão.
17 Mas a moça riu e disse
18 que não tinha precisão,
19 pois era dia, e de noite
20 tinha dormido um tantão.
21 Daí o moço pediu-lhe
22 que ela tirasse o vestido,
23 depois a combinação,
24 depois deitasse na cama,
25 que era bem quente o colchão.
26 Mas a moça riu e disse
27 não estar com frio não,
28 que o vestido que vestia
39 tirar não podia não,
30 que a patroa foi quem disse
31 que devia ter vergonha
32 e cobrir-se com vestido,
33 calcinha e combinação...
34 E se foi, deixando moço
35 a se torcer de paixão.

36 E quando foram chamá-lo,
37 o moço tinha dormido
38 e não acordou mais não.
[...]
           SOUZA, Afonso Félix de. Nova antologia poética.
           Goiânia: Cegraf UFG, 1991. p. 78.

 

Uma característica incomum ao gênero lírico presente neste trecho do poema é