INSTRUÇÃO: Para responder à questão 34, leia o trecho do conto “Linda, uma história horrível”, de Caio Fernando Abreu.
(...) – Então quer dizer que o senhor veio me visitar? Muito bem. Ele fechou o isqueiro na palma da mão. Quente da mão manchada dela.
– Vim, mãe. Deu saudade.
Riso rouco:
– Saudade? Sabe que a Elzinha não aparece aqui faz mais de mês? Eu podia morrer aqui dentro. Sozinha. Deus me livre. Ela nem ia ficar sabendo, só se fosse pelo jornal. Se desse no jornal. Quem se importa com um caco velho?
Ele acendeu um cigarro. Tossiu forte na primeira
tragada:
– Também moro só, mãe. Se morresse, ninguém ia ficar sabendo. E não ia dar no jornal. (...)
– Deixa eu te ver melhor – pediu (ela).
Ajeitou os óculos. Ele baixou os olhos. No silêncio, ficou ouvindo o tic-tac do relógio da sala. Uma barata miúda riscou o branco dos azulejos atrás dela.
– Tu estás mais magro – ela observou. Parecia preocupada.
– Muito mais magro.
– É o cabelo – ele disse. Passou a mão pela cabeça
quase raspada. – E a barba, três dias.
– Perdeu cabelo, meu filho. (...)
Levantou os olhos, pela primeira vez olhou direto nos olhos dela. Ela também olhava direto nos olhos dele. Verde desmaiado por trás das lentes dos óculos, subitamente muito atentos. Ele pensou: é agora, nesta contramão. Quase falou. Mas ela piscou primeiro. (...)
– Mas vai tudo bem? (...) Saúde? Diz que tem umas doenças novas aí, vi na tevê. Umas pestes.
– Graças a Deus – ele cortou. (...)
– Vou dormir que amanhã cedo tem feira. Tem lençol limpo no armário do banheiro. Então fez uma coisa que não faria, antigamente. Segurou-o pelas duas orelhas para beijá-lo não na testa, mas nas duas faces. Quase demorada. Aquele cheiro
– cigarro, cebola, cachorro, sabonete, cansaço, velhice.
Mais qualquer coisa úmida que parecia piedade, fadiga de ver. Ou amor. Uma espécie de amor. (...)
(Ele) Começou a desabotoar a camisa manchada de suor e uísque. Um por um, foi abrindo os botões. Acendeu a luz do abajur, para que a sala ficasse mais clara quando, sem camisa, começou a acariciar as manchas púrpuras (...) espalhadas embaixo dos pêlos do peito. Na ponta dos dedos, tocou o pescoço. Do lado direito, inclinando a cabeça, como se apalpasse uma semente no escuro. Depois foi dobrando os joelhos até o chão.
Deus, pensou, antes de estender a outra mão para tocar no pêlo da cadela quase cega, cheio de manchas rosadas. Iguais às do tapete gasto da escada, iguais às da pele do seu peito, embaixo dos pêlos. Crespos, escuros, macios (...).
Todas as afirmativas estão corretamente associadas ao excerto e seu contexto, EXCETO:
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