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Paraná Puc-PR 2012.2 Questão: 9 Literatura Teoria Literária 

 

 

 

Observe e analise a seguinte passagem de Memórias Póstumas de Brás Cubas, retirado do capitulo 10, intitulado “Naquele Dia”:

Lavado e enfaixado, fui desde logo o herói da nossa casa. Cada qual prognosticava a meu respeito o que mais lhe quadrava ao sabor. Meu tio João, o antigo oficial de infantaria, achava-me um certo olhar de Bonaparte, coisa que meu pai não pôde ouvir sem náuseas; meu tio Ildefonso, então simples padre, farejava-me cônego. — Cônego é o que ele há de ser, e não digo mais por não parecer orgulho; mas não me admiraria nada se Deus o destinasse a um bispado... É verdade, um bispado; não é coisa impossível. Que diz você, mano Bento? Meu pai respondia a todos que eu seria o que Deus quisesse; e alçava-me ao ar, como se intentasse mostrar-me à cidade e ao mundo; perguntava a todos se eu me parecia com ele, se era inteligente, bonito... Digo essas coisas por alto, segundo as ouvi narrar anos depois; ignoro a mor parte dos pormenores daquele famoso dia. Considere as afirmativas abaixo, sobre a definição do caráter do protagonista e narrador do romance:

I. Nota-se no que Brás Cubas conta de sua vida a tendência a apresentar-se como um homem sempre “cindido” entre dois impulsos
contrastantes. É, para um dos tios, um futuro cônego, e, para outro, um futuro general. Sua mãe lhe ensinava orações. Seu pai ensinavalhe a ser esperto. Sua derradeira (e infrutífera) intenção de “obra”, o emplasto, é imaginada como algo que tanto poderia servir para o bem da humanidade como para eternizar o nome do criador. A verdade é que essas divisões geram um impasse crônico, que faz de Brás um indivíduo que acaba por não se decidir por nada e por fazer muito pouco em sua vida.

II. A sequência “Meu pai respondia a todos que eu seria o que Deus quisesse; e alçava-me ao ar, como se intentasse mostrar-me à cidade e ao mundo; perguntava a todos se eu me parecia com ele, se era inteligente, bonito...” revela, nas entrelinhas, uma das marcas do comportamento e dos valores do meio social onde o menino Brás crescerá e à qual se acomodará. Levado por projetos de ascensão social, amizades de conveniência e busca pela celebridade, o pai do protagonista age para, aos poucos, ir inserindo o filho em um ambiente moral marcado pela necessidade de ostentar respeitabilidade social por meio da manutenção das aparências.

III. A alegria da família e o otimismo de todos na cena citada não se confirma nas descrições do que foi a infância de Brás Cubas. O menino sofre a rejeição dos familiares por não se adequar ao projeto que todos têm para ele. Tímido e com dificuldade de relacionamentos (o que se agrava com a perda precoce do pai, figura que mais o protegia), Brás crescerá longe do ideal de grande homem que a sociedade de sua época valorizava. Isso o torna, na vida adulta, um homem amargurado e desconfiado.

IV. Embora aparente ser de menores consequências para o todo da narrativa, a frase “Digo essas coisas por alto, segundo as ouvi narrar anos depois; ignoro a mor parte dos pormenores daquele famoso dia” é reveladora do procedimento memorialístico adotado por Brás Cubas no modo de narrar sua vida. A busca do “defunto autor” em sua escrita de memórias é menos a precisão factual do que a reflexão sobre o significado de sua trajetória. Além disso, assumindo postura moderna, o texto de Machado de Assis prima pelo uso criativo – e convidativo da criatividade do leitor – da incerteza e da dúvida. As relativizações são uma das tônicas dominantes no modo de Machado de Assis, por meio de seus narradores, expressar sua visão de mundo.

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