Luis Fernando Veríssimo comenta com humor os jogos olímpicos modernos. Raul Pompeia, escritor brasileiro do final do século XIX, também registrou a impressão produzida pela prática do esporte, introduzida nas escolas brasileiras a partir de 1851. No romance O Ateneu, de 1888, ele assim descreve uma apresentação de ginastas:
Capítulo 1
Diante das fileiras, Bataillard, o professor de ginástica, exultava, envergando a altivez do seu sucesso na extremada elegância do talhe, multiplicando por milagroso desdobramento o compêndio inteiro da capacidade profissional, exibida em galeria por uma série infinita de atitudes.
Ao peito tilintavam-lhe as agulhetas do comando, apensas de cordões vermelhos em trança. Ele dava as ordens fortemente, com uma vibração
penetrante de corneta que dominava à distância, e sorria à docilidade mecânica dos rapazes.
Acabadas as evoluções, apresentaram-se os exercícios. Músculos do braço, músculos do tronco, tendões dos jarretes, a teoria toda do corpore sano foi praticada valentemente ali, precisamente, com a simultaneidade exata das extensas máquinas. Houve após o assalto aos aparelhos. Os aparelhos alinhavamse a uma banda do campo, a começar do palanque da regente. Não posso dar ideia do deslumbramento que me ficou dessa parte. Uma desordem de contorções, deslocadas e atrevidas; uma vertigem de volteios à barra fixa, temeridades acrobáticas ao trapézio, às perchas, às cordas, às escadas; pirâmides humanas sobre as paralelas, deformando-se para os lados em curvas de braços e ostentações vigorosas do tórax; formas de estatuária viva, trêmulas de esforço, deixando adivinhar de longe o estalido dos ossos desarticulados; posturas de transfiguração sobre invisível apoio; aqui e ali uma cabecinha loura, cabelos em desordem cacheados à testa, um rosto injetado pela inversão do corpo, lábios entreabertos ofegando, olhos semicerrados para escapar à areia dos sapatos, costas de suor, colando a blusa em pasta, gorros sem dono que caíam do alto e juncavam a terra; movimento, entusiasmo por toda a parte e a soalheira, branca nos uniformes, queimando os últimos fogos da glória diurna sobre aquele triunfo espetaculoso da saúde, da força, da mocidade.
O professor Bataillard, enrubescido de agitação, rouco de comandar, chorava de prazer. Abraçava os rapazes indistintamente. Duas bandas militares revezavam-se ativamente, comunicando a animação à massa dos espectadores. O coração pulava-me no peito com um alvoroço novo, que me arrastava para o meio dos alunos, numa leva ardente de fraternidade. Eu batia palmas; gritos escapavam-me, de que me arrependia quando alguém me olhava.
POMPEIA, Raul. O Ateneu. 4 ed. São Paulo: Moderna, 2004. p. 23-24 (adaptado).
Glossário:
corpore sano: do latim, significa “corpo são”, isto é, saudável (da expressão mens sana in corpore sano: “mente sã, corpo são”).
“Docilidade mecânica dos rapazes” e “simultaneidade exata das extensas máquinas” são duas expressões que refletem uma concepção da atividade esportiva marcada por
TEMPO NA QUESTÃO
00:00:00
Português Geral
Total de Questões: ?
Respondidas: ? (0,00%)
Certas: ? (0,00%)
Erradas: ? (0,00%)
Somente usuários cadastrados!